TEMPO
A mim que desde a infância venho vindo
como se o meu destino
fosse o exato destino de uma estrela
apelam incríveis coisas:
pintar as unhas, descobrir a nuca,
piscar os olhos, beber.
Tomo o nome de Deus num vão.
Descobri que a seu tempo
vão me chorar e esquecer.
Vinte anos mais vinte é o que tenho,
mulher ocidental que se fosse homem
amaria chamar-se Eliud Jonathan.
Neste exato momento do dia vinte de Julho
de mil novecentos e setenta e seis,
o céu é bruma, está frio, estou feia,
acabo de receber um beijo pelo correio.
Quarenta anos: não quero faca nem queijo. Quero a fome.
Por Adélia Prado
Arte de Van Gogh
A mim que desde a infância venho vindo
como se o meu destino
fosse o exato destino de uma estrela
apelam incríveis coisas:
pintar as unhas, descobrir a nuca,
piscar os olhos, beber.
Tomo o nome de Deus num vão.
Descobri que a seu tempo
vão me chorar e esquecer.
Vinte anos mais vinte é o que tenho,
mulher ocidental que se fosse homem
amaria chamar-se Eliud Jonathan.
Neste exato momento do dia vinte de Julho
de mil novecentos e setenta e seis,
o céu é bruma, está frio, estou feia,
acabo de receber um beijo pelo correio.
Quarenta anos: não quero faca nem queijo. Quero a fome.
Por Adélia Prado
Arte de Van Gogh
Tão lindo e tão feminino...
ResponderEliminarMergulha de forma doce e latente em um universo descoberto... e ainda obscuro!
Mexe com bicho fêmea que sou... Mexe comigo!
Adorei!... Muito bom ler por aqui!
Aline.
http://alinemoraisfarias.blogspot.com/
Amo este poema António, que bom encontrá-lo aqui, melhor ainda poder reler estes versos abrigada por esta noite estrelada...
ResponderEliminarUm beijo, gracias!!!
Carmen Silvia Presotto
Viceral e pulsante, me emocionou!
ResponderEliminar"...o céu é bruma, está frio, estou feia,
acabo de receber um beijo pelo correio.
Quarenta anos: não quero faca nem queijo. Quero a fome."
Avassalador!!