sexta-feira, 6 de abril de 2018

António Amaral Tavares


(para Carmen Silvia Presotto)



A matemática da morte traz
dias absurdos onde as horas
se afundam no grito rouco das ervas.

Talvez por isso esta escrita ferida
sobre ti que um dia viraste
as costas ao seu halo medonho.

Claramente era um sonho teu
reconstruir a sombra da tua casa para todos
um vislumbre delirante
mesmo que a cada dia
se deteriorasse o reboco das tuas paredes
assim dizia eu.

As casas são mistérios para os outros
e cometemos o erro de atribuir
palavras à própria ignorância.

E só agora compreendi
pela pedra da infinitude do teu silêncio
as tuas mãos louvadas
pelas manhãs limpas.

Cego
não vi que partiste os espelhos mais impuros
esse caminho fulgurante para o amor.

Eu sujo sem luz
e sem piedade.