O
ANJO
Perdeu-se
de seu bando numa revoada vespertina. Então, perambulou ocioso por campos,
revivendo carcaças, desviando enchentes dos vilarejos, curando a peste do gado
e a febre da lavoura, até chegar à cidade. Entretanto, só as crianças ainda sem
batismo o viam. E ele, em dialeto de bicho de pelúcia, lhes falava de coisas
que ainda não tinham nome. Passou a habitar empoleirado no ombro de uma menina
cega. Quando ninguém estava olhando, o anjo interrompia sua cegueira, e a
menininha, disfarçadamente deslumbrada, podia ver até através das pessoas.
Por Wilson Nanini
Arte de Duy Huynh