sábado, 6 de fevereiro de 2010

XADREZ





Eu movo um dia branco,

Ele move um dia preto.

Eu avanço com um sonho,

Ele manda-o para a guerra.

Ele ataca os meus pulmões

Eu fico um ano no hospital a pensar,

Faço uma combinação brilhante

E ganho-lhe um dia preto.

Ele move uma desgraça

E ameaça-me com o cancro

(Que por agora avança em forma de cruz),

Mas ponho à sua frente um livro

E obrigo-o a recuar.

Ganho mais algumas peças,

Mas, reparem, metade da minha vida

Já está fora de jogo.

- Vou dar-te cheque e perdes o optimismo

Diz ele.

- Não faz mal, gracejo eu,

Faço roque dos sentimentos.



Atrás de mim a minha mulher, os meus filhos,

O sol, a lua e os outros mirones

Tremem por cada jogada minha.



Eu acendo um cigarro

E retomo a partida.





Por Marin Sorescu
Tradução colectiva revista por Egito Gonçalves

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