quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010



Ando um pouco acima do chão

Nesse lugar onde costumam ser atingidos

Os pássaros

Um pouco acima dos pássaros

No lugar onde costumam inclinar-se

Para o voo



Tenho medo do peso morto

Porque é um ninho desfeito



Estou ligeiramente acima do que morre

Nessa encosta onde a palavra é como pão

Um pouco na palma da mão que divide

E não separo como o silêncio em meio do que escrevo



Ando ligeiro acima do que digo

E verto o sangue para dentro das palavras

Ando um pouco acima da transfusão do poema



Ando humildemente nos arredores do verbo

Passageiro num degrau invisível sobre a terra

Nesse lugar das árvores com fruto e das árvores

No meio dos incêndios

Estou um pouco no interior do que arde

Apagando-me devagar e tendo sede

Porque ando acima da força a saciar quem vive

E esmago o coração para o que desce sobre mim



E bebe






Por Daniel Faria
Video de David Fonseca

1 comentário:

  1. Caro António,
    Obrigado pela indicação. Este poema é belo e profundo. É poema para se ler muitas vezes e ir absorvendo paulatinamente todo seu conteúdo, cada vez um pouco mais. Lindo, denso, profundo, sensível. Parabéns a você pela postagem e ao Daniel Faria pela autoria. "Estou um pouco no interior do que arde / Apagando-me devagar e tendo sede"... isto é lindo.
    Grande abraço.

    Ivan Bueno
    blog: Empirismo Vernacular
    www.eng-ivanbueno.blogspot.com

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