segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010



Dorme, meu amor, que o mundo já viu morrer mais

este dia e eu estou aqui, de guarda aos pesadelos.

Fecha os olhos agora e sossega – o pior já passou

há muito tempo; e o vento amaciou; e a minha mão

desvia os passos do medo. Dorme, meu amor –



a morte está deitada sob o lençol da terra onde nasceste

e pode levantar-se como um pássaro assim que

adormeceres. Mas nada temas: as suas asas de sombra

não hão-de derrubar-me – eu já morri muitas vezes

e é ainda da vida que tenho mais medo. Fecha os olhos



agora e sossega – a porta está trancada; e os fantasmas

da casa que o jardim devorou andam perdidos

nas brumas que lancei ao caminho. Por isso, dorme,



meu amor, larga a tristeza à porta do meu corpo e

nada temas: eu já ouvi o silêncio, já vi a escuridão, já

olhei a morte debruçada nos espelhos e estou aqui,

de guarda aos pesadelos – a noite é um poema

que conheço de cor e vou cantar-to até adormeceres.





Por Maria do Rosário Pedreira
Quadro de Marc Chagall

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