sábado, 24 de abril de 2010



A COMPAIXÃO





Algum tempo depois alguns amigos

abeiraram-se de mim abeirado

do poço de onde só o eco vinha

aos meus apelos: disseram-me é em

vão pousando ternamente as mãos nos

meus ombros nos meus braços ternamente

as mãos nas minhas mãos que era melhor

desistir: rareavam os retornos

das quedas àquela profundidade.



Já em casa tive ao telefone outros

amigos amigos que vivem no

outro lado do mundo perguntando

como te sentes? dizendo que a viram

quase hesitante – alguns juraram mesmo

que ela hesitou – abeirada do poço

mas o poço varava o mundo e não

havia perto possuidor de

corda bastante para o meu resgate.



Afectei acreditar e também

que sabendo de todas estas coisas

era deveras menos infeliz.





Por António Gregório
Quadro de Edvard Munch

2 comentários:

  1. Primeiramente, muito obrigado pela sua presença no meu blog! Comentários como os seus com certeza significam muito pra quem escreve.
    Segundo, precisa dizer que isso aqui tá bom demais?! Muito bem escrito e muito tocante. Uma linda composição de palavras que construíram um ótimo poema.

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  2. António, que bom quando o poço é tal qual a página em branco, pois dela nos "apoçamos" das palavras para viver desafogados...

    Um beijo amigo.

    Carmen Silvia Presotto

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