segunda-feira, 5 de abril de 2010



PRIMEIRO AMOR





Gostava muito dele

mas nunca lhe disse isso

porque a minha criada tinha-me avisado

se gostar de um rapaz

nunca lhe diga que gosta dele

se diz

ele faz pouco de si para sempre

os rapazes são maus

eu não era bela

nem sabia quem tinha pintado Os pestíferos de Jaffa

resolvi assim escrever-lhe cartas anónimas

escrevia o rascunho num caderno pautado

não sei hoje o que escrevia

mas sei que nunca escrevi

gosto muito de ti

e depois pedia a uma rapariga muito bonita

que passasse as cartas a limpo

eu acreditava que quem tinha uns cabelos

assim loiros e a pele assim fina

devia ter uma letra muito melhor do que a minha

agora que conto isto

vejo que deixo muitas coisas de fora

por exemplo que o meu primeiro amor

não foi este mas o Paulo

o irmão da rapariga bonita





Por Adília Lopes

3 comentários:

  1. Que bonito desabafo poético, Adília.

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  2. Hey, Poetas!

    Amo o bucolismo do primeiro amor, uma cena que nos persegue,por isso e por ele, que bom quando a poesia chega e o desvela!!!


    Um beijo amigo e carinhoso

    Carmen Silvia Presotto

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  3. antónio, que escolha tão especial, e que poema tão especial. eu já voltei tantas vezes a ele desde que foi postado. como me fascina esse eu, esse eu em estado tão amoroso e tão submisso, que tem na palavra um escape, uma compensação. obrigada!

    bom, em retribuição, queria muito que conhecesse um poeta, que conheci muito recentemente e por quem estou fascinada: alex verella. atente para o poema O CASAMENTO DE LINGUAGEM E MUNDO, e ouça-o declamando, vale a pena. abraço.

    http://acidadesoueu.blogspot.com/2009/08/alex-varella-alexandrias-20-poemas-do.html

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