quinta-feira, 15 de abril de 2010



BALADA DA ÉGUA AUSENTE





Uma oração pelo cowboy.

A sua égua fugiu.

Ele caminhará até a encontrar,

a sua querida, a sua vadia!

Os rios transbordantes,

as estradas inundadas,

as pontes destruídas, no terror da perda.

Não há nada que seguir,

nenhum lugar para ir.

Ela foi-se como o verão,

ela foi-se como a neve.

E os grilos partem-lhe o coração

com o seu cantar,

e o dia desaba-lhe em cima,

e a noite está toda errada.



Ele sonhou que ela passava

galopando.

E afastava os fetos,

e fazia um carreiro no meio da relva,

e moldava na lama

o ferro e o ouro

que ele pregara nos seus pés,

quando o senhor era ele.

E embora ela pastasse,

há um minuto atrás,

ele persegue-a toda a noite,

ele persegue-a todo o dia.

Cego para a sua presença,

excepto para comparar

a sua ferida agora

com o seu castigo depois.



Então em casa, no seu ramo,

na mais alta árvore,

uma ave canta,

subitamente.

O sol é quente,

a suave brisa corre

nos salgueiros junto ao rio.

O mundo é doce

o mundo é grande.

E ela está ali, onde a luz

e a escuridão se dividem.

O vapor eleva-se do seu suor.

Ela é grande, e é tímida.

Ela caminha na lua,

quando pisa o horizonte.



Ela vem à sua mão,

mas não está realmente domada.

Ela anseia ser perdida

e ele anseia o mesmo.

E ela vai fugir,

vai escapar, na primeira oportunidade.

Para se esfregar e se alimentar

na tenra erva da montanha.

ou dará uma volta

no mais elevado planalto,

onde não há nada por cima

e nada por baixo.

É tempo para o fardo,

é tempo para o chicote.



Assim ele se prende

à égua galopante,

e ela se prende a esse cavaleiro.

E não há espaço,

esquerda, direita.

E não há tempo,

dia, noite.

Ele inclina-se no seu pescoço

e murmura baixinho:

“Irei onde fores”

Eles tornam-se um,

apontam-se para a planície.

Nenhuma necessidade do chicote,

nenhuma necessidade do freio.



Agora o cimento desta união,

que a mantém apertada,

que a desfaz, em pedaços,

logo na noite seguinte,

alguns dizem que é o cavaleiro,

alguns dizem que é a égua,

ou que o amor é como o fumo,

irreparável.

Mas, diz Leonard:

“Deixa-a ir,

essa silhueta no grande céu do Oeste”

Por isso eu escolho uma música

e eles vão-se embora.

Eles vão-se, como o fumo.

Eles vão-se, como esta canção.





Por Leonard Cohen
Tradução de José Alfredo Marques
Música de Leonard Cohen

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