sábado, 10 de abril de 2010



UMA HISTÓRIA DE AMOR





A história de Bosko e Amira –

fugindo de Sarajevo tentaram atravessar uma ponte

cheios de esperança de que do outro lado

o maldito passado aparecesse com novas formas

que tornassem possível a existência de um futuro para eles –

foi o acontecimento mediático da Primavera.

A morte estava à sua espera no meio da ponte.

O homem que puxou o gatilho usava uniforme

e nunca foi acusado de homicídio.

Toda a imprensa mundial escreveu sobre eles.

Artigos italianos falaram do Romeu e da Julieta da Bósnia.

Jornalistas franceses louvaram a inseparabilidade do amor

capaz de rasgar as fronteiras políticas.

Os americanos reconheceram neles o símbolo comum

de duas nações divididas por uma ponte.

Os britânicos viram os seus cadáveres como exemplo

do absurdo das guerras.

E os russos permaneceram em silêncio.

As fotografias dos dois amantes espalharam-se

na florescente Primavera.

Só o meu amigo bósnio Prsic

que protegia a ponte

foi forçado a ver como dia após dia

os vermes as falsas verdades e os corvos

devoraram os corpos inchados de Bosko e Amira.

Eu ouvi-o blasfemar

quando o vento primaveril trouxe do outro lado da ponte

o fedor nauseabundo da deterioração

e o obrigou a colocar uma máscara de gás.

Mas isto não o mencionou nenhum jornal.





Por Goran Simic
Tradução de Lp, Do trapézio, sem rede
Arte pormenor de Guernica de Picasso

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