terça-feira, 20 de abril de 2010

APOCALIPSE, AGORA





Eis o arame do teu nome vibrando no nevoeiro. As palavras aladas de Homero enchem também os ouvidos das ruas, chamando por ti. É de manhã dir-se-ia o olhar ensonado dos pássaros, um lampejo de esperança, o cheiro primitivo do pão.
Abrem-se persianas. O piano de Schubert invade o corpo da música. Estremecem os gonzos da imaginação. Desaparecem assim abracadabra os noventa e sete apartamentos do Mário Bruno, as noventa e sete prisões dos coelhos mansos.
Contam que é uma festa no cais das colunas, com a chegada do primeiro remador.
Somos, finalmente, descobertos.
Já podes vir, meu amigo, vestido de pombo branco, comer o arroz integral da minha mão.
Se soubesses como é boa agora esta vida rústica, sem automóveis, sem helicópteros fiscalizando as pontes, os desesperos, os suicidas, sem neo-realistas e peixes de pântano congelado.
Já podes enroscar-te no meu tronco flectido, num acto solene de libertação do vento do amor. Acariciar a nuca dos jardins. Ternamente, como um pintor ingénuo




Por Manuela Parreira da Silva
Excerto vídeo de Apocalypse Now, de Francis F. Coppola

1 comentário:

  1. António, que bom quando entramos aqui e percebemos a Arte atada por artes, conversando...

    Um beijo amigo e companheiro.

    Carmen Silvia Presotto

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