segunda-feira, 15 de agosto de 2011















NO PRONTO-A-VESTIR









Não precisava de outro par de calças

mas a luz, o suborno dos sorrisos, a ternura

de cetim obrigaram-me a entrar.

Depois, na pátria dos Lotófagos,

a festa carmesim, o vermelho-coração,

o gosto a paraíso nos decotes de veludo

– entre ganga e algodão dividi o meu pesar.




Tempos houve em que das torres das igrejas

se avistavam os limites da cidade (ou era

da verdade?). Mas foram, como sabes, encolhendo.

Pouco a pouco fomos vendo, impossíveis

de limpar, as nódoas nos tecidos mais amados,

o nastro dos afectos desfiado pelo vento.

Desbotaram os caminhos, alargaram os casacos

e a sombra dos sobreiros, quem a viu e quem a vê.




Nada disso, porém – garantiram-me na loja –

poderá acontecer com as minhas calças novas.








Por José Miguel Silva

3 comentários:

  1. Parabéns pela originalidade. Um abraço, Yayá.

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  2. Obrigado pela sua leitura e constante presença Yayá.

    Abraços
    António

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  3. Hey, tudo bem António? Que poema!! De alguma forma ele me levou a reler o poema que colo aqui...

    La nube en Pantalones (1914 – 1915)

    ¡No es posible dejar de un salto el corazón!
    (…)
    Más seguros que los rezos son los tendones y los músculos
    ¿Por qué habriamos de rogar una limosna al tiempo?
    ¡Nosotros,
    cada uno de nosotros,
    sostenemos en nuestras cinco
    las correas de transmisión del mundo!
    (…)
    Y cuando,
    procalamando con una revuelta
    su arribo, salgan a recibir al salvador,
    yo
    me sacaré el alma,
    la pisotearé
    ¡para hacerla más grande!,
    y asi ensangrentada se las daré como estandarte
    (…)
    Hoy hace falta
    pegarle duro al cerebro del mundo
    con una manopla
    (…)
    Sáquense, transeúntes, las manos de los bolsillos:
    cojan una piedra, un cuchillo, una bomba,
    y si alguien no tiene manos
    que venga a golpear con la frente.

    Vladimir Maiakovski, La nube en pantalones

    Um beijo grande, e A Casa que caminha sempre nos levando a grandes poetas...

    Boa noite, bom dia.

    Carmen.

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