NO PRONTO-A-VESTIR
Não precisava de outro par de calças
mas a luz, o suborno dos sorrisos, a ternura
de cetim obrigaram-me a entrar.
Depois, na pátria dos Lotófagos,
a festa carmesim, o vermelho-coração,
o gosto a paraíso nos decotes de veludo
– entre ganga e algodão dividi o meu pesar.
Tempos houve em que das torres das igrejas
se avistavam os limites da cidade (ou era
da verdade?). Mas foram, como sabes, encolhendo.
Pouco a pouco fomos vendo, impossíveis
de limpar, as nódoas nos tecidos mais amados,
o nastro dos afectos desfiado pelo vento.
Desbotaram os caminhos, alargaram os casacos
e a sombra dos sobreiros, quem a viu e quem a vê.
Nada disso, porém – garantiram-me na loja –
poderá acontecer com as minhas calças novas.
Por José Miguel Silva
Não precisava de outro par de calças
mas a luz, o suborno dos sorrisos, a ternura
de cetim obrigaram-me a entrar.
Depois, na pátria dos Lotófagos,
a festa carmesim, o vermelho-coração,
o gosto a paraíso nos decotes de veludo
– entre ganga e algodão dividi o meu pesar.
Tempos houve em que das torres das igrejas
se avistavam os limites da cidade (ou era
da verdade?). Mas foram, como sabes, encolhendo.
Pouco a pouco fomos vendo, impossíveis
de limpar, as nódoas nos tecidos mais amados,
o nastro dos afectos desfiado pelo vento.
Desbotaram os caminhos, alargaram os casacos
e a sombra dos sobreiros, quem a viu e quem a vê.
Nada disso, porém – garantiram-me na loja –
poderá acontecer com as minhas calças novas.
Por José Miguel Silva
Parabéns pela originalidade. Um abraço, Yayá.
ResponderEliminarObrigado pela sua leitura e constante presença Yayá.
ResponderEliminarAbraços
António
Hey, tudo bem António? Que poema!! De alguma forma ele me levou a reler o poema que colo aqui...
ResponderEliminarLa nube en Pantalones (1914 – 1915)
¡No es posible dejar de un salto el corazón!
(…)
Más seguros que los rezos son los tendones y los músculos
¿Por qué habriamos de rogar una limosna al tiempo?
¡Nosotros,
cada uno de nosotros,
sostenemos en nuestras cinco
las correas de transmisión del mundo!
(…)
Y cuando,
procalamando con una revuelta
su arribo, salgan a recibir al salvador,
yo
me sacaré el alma,
la pisotearé
¡para hacerla más grande!,
y asi ensangrentada se las daré como estandarte
(…)
Hoy hace falta
pegarle duro al cerebro del mundo
con una manopla
(…)
Sáquense, transeúntes, las manos de los bolsillos:
cojan una piedra, un cuchillo, una bomba,
y si alguien no tiene manos
que venga a golpear con la frente.
Vladimir Maiakovski, La nube en pantalones
Um beijo grande, e A Casa que caminha sempre nos levando a grandes poetas...
Boa noite, bom dia.
Carmen.