domingo, 28 de agosto de 2011















SALVE REGINA


para a Inês









«Isto já não tem melhoras» – acabou

por nos dizer Zulmira, referindo-se

à sua perna atropelada, à vida,

ao filho que há três anos lhe mataram,

embora se chamasse Epifânio.




E ficou assim, completamente sozinha,

deusa rude e resignada que veio

dos campos servir vinhos e cervejas

a uma «freguesia» que foi, em tempos,

tão imensa como é agora a sua solidão.




Uma quase mansa solidão, se virmos bem,

uma tristeza sem lágrimas, uma sabedoria

que se volta a confundir com o azul forte das paredes,

com o seu nome último e inquebrantável,

a «passar o tempo» entre os muros deste reino.




Tem agora a mesma idade que Maria,

abre só para ti uma garrafa de ginja

e assiste calmamente ao fim do mundo.







Por Manuel de Freitas

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