segunda-feira, 22 de março de 2010



ULTRAPASSANDO À NOITE UM CAMIÃO
CHEIO DE GALINHAS NA AUTO-ESTRADA OITENTA





O que me apanhou primeiro foi o seu pânico.



Algumas eram atiradas pelo vento provocado pela velocidade

para o fundo das suas gaiolas empilhadas,

outras tinham as cabeças presas entre as grelhas –



e não conseguiam puxá-las de novo para dentro.

Outras apenas suspensas – mortas -,

as penas batidas pelo ar, coagulando



nas suas cabeças. Então

eu vi aquela que me fez abrandar um pouco –

e demorei-me ao seu lado durante cinco milhas.



Ela tinha enfiado a cabeça no espaço

entre as barras – para poder ter uma vista melhor.

Tinha o mesmo aspecto que tem um cão na traseira



de uma carrinha de caixa aberta, esse aspecto ansioso de cão

que sabe que está a ser levado para longe.

Ela estendeu o pescoço.



Olhou em volta, observou-me, depois

esticou-o ainda mais para ver por cima do carro – esticou-o

para ver o que se passava mais além.



Essa é a galinha que eu quero ser.





Por Jane Mead
Tradução de Lp, Do trapézio, sem rede

1 comentário:

  1. Depois dessa leitura, vou reler o poema Galo de Ferreira Gullar e procurar desvendar os caminhos de liberdade apontados pelos dois poemas...

    Um beijo amigo e carinhoso

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