sábado, 27 de março de 2010



DA ORDEM INESPERADA


Nunca houve isso,
uma página em branco.
No fundo, todas gritam,
pálidas de tanto.


Paulo Leminski






Dias diversos:

roupa seca no varal

vestindo fantoches sem corpos,

café esfriando na xícara

e dedo nenhum de prosa.



Dias inversos:

no varal não sobra linha,

a roupa mal torcida

escorre a tinta a mancha a nódoa.

Redunda a saliva e também pinga,

onde o sol não, desbota.



Clara de cegar os olhos

a porcelana suja da xícara

espreita pálida a página inaudita

e inaugura invisível

polifonia afinada de vozes.





Por Fernanda Marra
(Mais poesia sua em http://www.mareseressacas.blogspot.com/)
Imagem de AAT

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