segunda-feira, 8 de março de 2010



O DRAGÃO





Semana que vem,

chega-te pelo correio a lua:

puro papelão,

que aos teus dedos

transmutará em louça.



Não fosse a gripe

que me assolou esses dias,

não fosse a preguiça,

os livros e o sono,

eu te mataria um dragão.



Na entrada da tua vila,

deixaria o bicho,

pesado como uma hecatombe

(um hematoma na boca do estômago,

as asas imensas de bomba

imersas numa poça de sangue verde).



Ora, não te assustes,

sei que te acostumei com presentes mais delicados.



Mas não seria preciso guardá-lo:

telefonarias para o Departamento de Limpeza Urbana

avisando que um louco que te ama

deixou um sonho morto

na porta da tua casa.





Por Eucanaã Ferraz

1 comentário:

  1. que coisa mais arrebatadora, tão duro e tão delicado, esse dragão sangrando...

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