terça-feira, 30 de março de 2010



SE AO MENOS A MORTE





Ela morria tantas vezes

em tiroteios à porta de casa

que já não sabia morrer para sempre

assim

de uma vez só.

Se ao menos se marcasse um dia

para a morte, uma hora certa

como no dentista

que apesar de tudo

nos faz esperar

onde apesar de tudo

não sabemos quando será a nossa vez.

Se ao menos a morte tivesse revistas

e gente na sala de espera

não estaríamos tão sós

tão vivos nessa ideia final

nesse desconforto.

Poríamos o nome na lista

quando estivéssemos prontos

sabendo que seria fácil desmarcar

marcar para outro dia

ou simplesmente

não comparecer.

Depois, ficaríamos com a dor,

com o terror

de passar sequer naquela rua

como ela à porta de casa.

Ela que morria tantas vezes

porque morria de medo de morrer.





Por Filipa Leal

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