sábado, 20 de março de 2010



SÁBADO EM SINTRA





O último pombo,

aquele que continua quando o resto do bando

já anda espalhado pelos telhados,

oculto entre muros,

o solitário em voo picado sobre as praças,

cego pelo sol,

talvez simplesmente mais silencioso do que os outros, indiferente

a esse estúpido cacarejar horizontal,

- enquanto desajeitadamente se perde,

grão a grão, o alimento oferecido -,

aquele que se atira para o vazio

de uma aventura imaginária, uma ameaça,

o medo de um assobio,

e extrai disso o voo e converte o perigo

num jogo de descidas e subidas bruscas,

a fuga para uma insensata corrida com a sombra

rápida da gaivota,

uma sombra que verdadeiramente voa e desaparece,

o pássaro que procura por todo o lado o vento das ruas

e das chaminés, que mergulha no trânsito e deixa

um monte repugnante de penas cinzentas

mesmo ao pé da tampa do esgoto,

não o olhes.





Por Fabio Pusterla
Tradução de Lp, do trapézio, sem rede

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