domingo, 25 de julho de 2010



XXX





Queima-te a memória da noite anterior

à fala, queima-te o sal

da boca que primeiro te mordeu

antes de te beijar.



Não tens espaço para morrer

com a manhã, não tens senão um buraco

onde esconder as lágrimas,

um ramo seco para enxotar as moscas.



O ofício da alma é desaprender.

Os animais são a maravilha,

sem memória de terem sido irmãos

da estrela matutina.



Talvez já apagada ou em ruína.





Por Eugénio de Andrade
Trabalho fotográfico sobre foto de Maonda

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