O FIM E O INÍCIO
Depois de toda guerra
alguém precisa fazer a limpeza.
Já que uma ordem como essa
não vai se fazer sozinha.
Alguém precisa tirar
o entulho das ruas
para que as carroças possam passar
com os corpos.
Alguém precisa atolar-se
na lama e nas cinzas,
nas molas dos sofás,
nos cacos de vidro,
nos trapos ensangüentados.
Alguém precisa arrastar o poste
para levantar a parede,
alguém precisa envidraçar a janela,
pôr as portas no lugar.
Fotogênico isso não é,
e leva anos.
Todas as câmeras já saíram
para outra guerra.
Precisamos das pontes
e das estações de trem de volta.
Mangas de camisas ficarão gastas
de tanto serem arregaçadas.
Alguém de vassoura na mão
ainda lembra como foi.
Alguém escuta e concorda
assentindo com a cabeça ilesa.
Mas haverá outros por perto
que acharão tudo isso
um pouco chato.
De vez em quando alguém ainda
tem que desenterrar evidências enferrujadas
debaixo de um arbusto
e arrastá-las até o lixo.
Aqueles que sabiam
o que foi tudo isso,
têm que ceder lugar àqueles
que sabem pouco.
E menos que pouco.
E finalmente aos que não sabem nada.
Na grama, que cobriu
as causas e as conseqüências,
alguém precisa deitar
com um matinho entre os dentes
e o olhar perdido nas nuvens.
Por Wislawa Szymborska
Tradução de Tiago Halewicz
Depois de toda guerra
alguém precisa fazer a limpeza.
Já que uma ordem como essa
não vai se fazer sozinha.
Alguém precisa tirar
o entulho das ruas
para que as carroças possam passar
com os corpos.
Alguém precisa atolar-se
na lama e nas cinzas,
nas molas dos sofás,
nos cacos de vidro,
nos trapos ensangüentados.
Alguém precisa arrastar o poste
para levantar a parede,
alguém precisa envidraçar a janela,
pôr as portas no lugar.
Fotogênico isso não é,
e leva anos.
Todas as câmeras já saíram
para outra guerra.
Precisamos das pontes
e das estações de trem de volta.
Mangas de camisas ficarão gastas
de tanto serem arregaçadas.
Alguém de vassoura na mão
ainda lembra como foi.
Alguém escuta e concorda
assentindo com a cabeça ilesa.
Mas haverá outros por perto
que acharão tudo isso
um pouco chato.
De vez em quando alguém ainda
tem que desenterrar evidências enferrujadas
debaixo de um arbusto
e arrastá-las até o lixo.
Aqueles que sabiam
o que foi tudo isso,
têm que ceder lugar àqueles
que sabem pouco.
E menos que pouco.
E finalmente aos que não sabem nada.
Na grama, que cobriu
as causas e as conseqüências,
alguém precisa deitar
com um matinho entre os dentes
e o olhar perdido nas nuvens.
Por Wislawa Szymborska
Tradução de Tiago Halewicz
António, que bom ter este poema aqui, reler, tresler, quadriler, Wislawa Szimborka sempre nos levará a mais e melhor Poesia!!!
ResponderEliminarUm beijo e obrigada.
Carmen Silvia Presotto
www.vidraguas.com.br