domingo, 31 de outubro de 2010



TALVEZ UM BARCO






Podia dizer-to agora mesmo

mas do silêncio já nada me separa

ou só o tempo lento ainda de um momento

uma palavra só sem mais cansaço



Será talvez um barco se fores tu

- a chuva da manhã nos vidros limpos

e o vulto esguio perdido duna a duna

de quem regressa apenas de partida



Um pássaro esquecido brilha ainda

em dois olhares levemente embaciado

pela mesma indecisa febre antiquíssima



Podia dizer-to agora mesmo

E talvez seja um barco se fores tu

- ou serei eu talvez se for o mar






Por Miguel Serras Pereira

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