Era o matraquear de saltos agudos
contra o mármore da escadaria. Insolente, contra a ternura dos pianíssimos que
se escapavam pela soleira do apartamento do primeiro direito posterior. E eu
sei, porque me aproximei como um ladrão e senti os frémitos na ponta dos dedos.
Ali, a música nascia, ali o útero.
Ou então a música soou dentro, pelas
mãos fantasmas de um ser gentil que te seguraria a alma em momentos. Alma é uma
palavra tão gasta, mas continua a sair-me dos dedos como um sonho cansado. São
patranhas ridículas ou nasceste mesmo para desejar cinco quartos de lua e não
menos?
Descalçou os sapatos de saltos agudos
e despiu os pés em passos etéreos. E subiu-se à ponta dos dedos, justamente
como fazia nas aulas de dança, e ficou mais perto, de uma altura de deuses.
Se viesses, eu venderia a lua a um
estranho e um dia, chegaria muito perto e dir-te-ia ao ouvido que há uma menina
que vive fugindo, porque roubou aos deuses um toque de midas. E quando morrer,
ninguém saberá que caminhava no mundo com uma estrela de cinco pontas escondida
nos cabelos. Mas tu haverias de saber.
Por Elisabete Albuquerque
Mais poesia sua em http://a-didascalia.blogspot.com/
Imagem de AAT
António,
ResponderEliminarNão creio que o conheça,descobri o seu blogue por acaso, quando recebi um mail da Oficina de Poesia e reparei neste endereço :)
É um verdadeiro privilégio ler-me neste espaço. Muito obrigada.
Elisabete Albuquerque
Eu também fiz a Oficina de Poesia. E a tua cara nâo me é estranha,pelo menos na expressão. É provável que me conheças daí. Fiz a OP em 2011. E se és quem eu penso, fizeste muito mal em desistir.
ResponderEliminarAntónio