quarta-feira, 28 de setembro de 2011

















MOTET POUR LES TRÉPASSÉS









Este poema seria teu, Inês,

se não fosse de ninguém.

Ao chegarmos de Lisboa,

depois da paragem ritual

no Café Lisbela — onde tudo

se compra e tudo se perde —,

vimos uma cadeira de rodas

à venda, uma motorizada

ao lado, uma igreja vazia

da qual certamente gostariam

Andrei Tarkovsky, Tonino

Guerra ou Ana Teresa Pereira.




A poucos metros dali, o meu pai

morria, tentava penosamente resistir

a uma hemorragia cerebral. Mas

isso, claro, ninguém precisa de saber.

Apenas tu, poema, que vieste de comboio

confirmar dia após dia que o Tejo

está onde sempre esteve: triste, azul, parado.










Por Manuel de Freitas

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