quinta-feira, 1 de setembro de 2011
















ABERTURA










Eu abria o rádio

eu abria o aparelho

era uma flor branca que eu abria

de sopro

eu soprava e eu abria a flor

A flor tocava música com as várias mãos

das pétalas

A flor tocava uma simbolização dum tempo

caído podre de espera de cor branca

O tempo espera-se em pintar-se

de branco

para cegar uma cor

mas a minha flor abria-se de

pétalas

e as várias mãos escreviam um

piano por cima de teclas grãos vários

seguidos uns aos outros.

Era assim uma harmonia

entre flor

tempo a querer-se de cor branca em cegar

era assim umas teclas cantarem filhos de grãos

por dentro dos grãos mesmos

unidos que eram em dimensão de lado

era assim um cantar-me o tempo todo

não era assim um cantar-me o tempo todo

era assim um pairar-me

o tempo todo em Nijinsky

o tempo em um fazer-me ballet pelo quarto inteiro

quando eu tinha aberta a cabeça que imagino

da música

Abria a pétala favorita do harém

onde no centro um sultão da flor

no centro que era o amarelo da flor

abria a pétala favorita da flor

e então

e era então que me soava dentro da manhã

do quarto

uma música desfibrada de tempo serôdio

como se tudo me fosse em longe

como se a música levasse longe

o céu.











Por António Gancho

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