segunda-feira, 3 de maio de 2010



FADO





Dizem os ventos que as marés não dormem esta noite.

Estou assustada à espera que regresses: as ondas já

engoliram a praia mais pequena e entornaram algas

nos vasos da varanda. E, na cidade, conta-se que

as praças acoitaram à tarde dezenas de gaivotas

que perseguiram os pombos e os morderam.



A lareira crepita lentamente. O pão ainda está morno

à tua mesa. Mas a água já ferveu três vezes

para o caldo. E em casa a luz fraqueja, não tarda

que se apague. E tu não tardes, que eu fiz um bolo

de ervas com canela; e há compota de ameixas

e suspiros e um cobertor de lã na cama e eu



estou assustada. A lua está apenas por metade,

a terra treme. E eu tremo com medo que não voltes.





Por Maria do Rosário Pedreira

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