sábado, 29 de maio de 2010



ODE LOUCA





Todos os homens têm o seu rio.

Lamentam-no sentados no interior das casas

de interior e como o poeta que escreve a lápis

apagam a memória com a sua água.

Os rios abandonam os homens que envelhecem

longe da infância, e eles choram

o reflexo absurdo na distância.

Por vezes, enlouquecem os rios, os homens,

os poetas nas palavras repetidas

que buscam uma ode que lhes diga

a textura. Todos procuram o mesmo:

um lugar de água mais limpa

ou um espelho que não lhes negue

a hipótese do reflexo.

O rio sofre mais do que o homem,

o poeta,

porque dele se espera que nos devolva

a imagem de tudo, menos de si próprio.

Todos os rios têm o seu narciso,

mas poucos, muito poucos,

o simples reflexo das suas águas.





Por Filipa Leal
Fotografia de Robert Parkeharrison

1 comentário:

  1. António Querido, que genial poema, com ele reflexo por alguns de meus versos e:" Quando triste, lembro-te riozinho e rio tanto... tanto... até meus olhos marejarem amargos como água do mar. Então, Rio de águas...Rio de dor...Rio de alegria...

    Um beijo e obrigada por este poema.

    Carmen Silvia Presotto

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