O POETA É UM ASSUNTO ALÍ NO INVISÍVEL
Esse homem é invisível, a sua matéria de calhandra é invisível,
anda no invisível com passos que produzem ruído nas ruas invisíveis,
come coisas invisíveis, respira o invisível, paga com moedas invisíveis.
O poeta é um assunto ali no invisível, cruza rios invisíveis,
deita-se com mulheres invisíveis, fala com palavras invisíveis.
Está em Dublin e é invisível, vai pelo céu em aviões invisíveis,
no seu coração a melancolia é invisível, pensa em coisas invisíveis,
lê Kavanagh que escrevia livros invisíveis,
por exemplo isto é invisível: My soul is an old horse
offered for sale in twenty fairs*.
A sua fúria é invisível, a sua tempestade também é invisível,
trabalha numa fábrica invisível, gasta os cotovelos em hospedarias invisíveis,
Teillier era invisível, Parra é quase invisível, ninguém viu Rojas.
Os operários brindam no fim do dia com canecas invisíveis de cerveja,
os solitários instalam-se em hotéis invisíveis, falam ao telefone
com raparigas invisíveis, esperam em esquinas invisíveis por outros invisíveis.
No verão a chuva é invisível, abrem então um guarda-chuva invisível,
partem para regiões invisíveis para lerem poemas invisíveis,
encontram-se num parque com alguém invisível, amam o invisível.
O poeta é um assunto ali no invisível, até este poema é invisível,
um espelho é invisível, a cidade em que vivo é invisível,
o imprescindível e o insignificante, isso é o invisível.
Por Alexandra Domínguez
Tradução de Lp, Do trapézio sem rede (http://arspoetica-lp.blogspot.com/)
Esse homem é invisível, a sua matéria de calhandra é invisível,
anda no invisível com passos que produzem ruído nas ruas invisíveis,
come coisas invisíveis, respira o invisível, paga com moedas invisíveis.
O poeta é um assunto ali no invisível, cruza rios invisíveis,
deita-se com mulheres invisíveis, fala com palavras invisíveis.
Está em Dublin e é invisível, vai pelo céu em aviões invisíveis,
no seu coração a melancolia é invisível, pensa em coisas invisíveis,
lê Kavanagh que escrevia livros invisíveis,
por exemplo isto é invisível: My soul is an old horse
offered for sale in twenty fairs*.
A sua fúria é invisível, a sua tempestade também é invisível,
trabalha numa fábrica invisível, gasta os cotovelos em hospedarias invisíveis,
Teillier era invisível, Parra é quase invisível, ninguém viu Rojas.
Os operários brindam no fim do dia com canecas invisíveis de cerveja,
os solitários instalam-se em hotéis invisíveis, falam ao telefone
com raparigas invisíveis, esperam em esquinas invisíveis por outros invisíveis.
No verão a chuva é invisível, abrem então um guarda-chuva invisível,
partem para regiões invisíveis para lerem poemas invisíveis,
encontram-se num parque com alguém invisível, amam o invisível.
O poeta é um assunto ali no invisível, até este poema é invisível,
um espelho é invisível, a cidade em que vivo é invisível,
o imprescindível e o insignificante, isso é o invisível.
Por Alexandra Domínguez
Tradução de Lp, Do trapézio sem rede (http://arspoetica-lp.blogspot.com/)
O poeta é um assunto alí no invisível... que tema, que poema, que verdade bem dita.
ResponderEliminarLidamos com as sombras, buscamos as linhas do ser e este é tão invisível como nos diz este poema de uma maneira instigantemente perfeita.
Um beijo António e A casa que caminha segue sendo um grande refúgio poético, aqui encontramos a nós e a outros em grandes versos.
Gracias e bom final de semana, este já estou levando para Vidráguas.
Carmen.
O teu comentário foi muito lúcido, Carmen.
ResponderEliminarAbraços, obrigado pela leitura.
António
Como já tinha referido no lugar de origem do poema traduzido, é um belo poema.
ResponderEliminarObrigada por o divulgar.
Obrigado pela leitura, Maria Costa. Volte Sempre.
ResponderEliminarAntónio Tavares