domingo, 13 de fevereiro de 2011

Ouvir Strange Fruit, por Billie Holiday aqui



LIÇÃO






Foi em 1963 ou 4, no Verão,

o meu pai guiava a família

de Forte Hood para a Carolina do Norte no nosso Buick de 56.

Tínhamos ouvido falar dos ataques do Klan, e sabíamos



que o Mississippi se tinha tornado mais perigoso do que o habitual.

A escuridão descia inclinando-se das árvores como faz o musgo

e, nessa noite, quando a luz caiu sobre as janelas,

o meu pai encostou à berma para dormirmos.



Barulhos

que habitualmente não me deixavam adormecer, com medo de monstros,

mantiveram também o meu pai acordado nessa noite

e eu permaneci em silêncio dando conta de que ele estava alerta,

aprendendo que ele poderia não ser capaz de nos proteger



de tudo e de todas as criaturas;

nem talvez da fúria subitamente ruidosa

de todo o meu corpo em relação a esta viagem do Texas

para fixarmos residência antes de ele partir



para um lugar sem lugar no mundo

a que ele chamava Vietname. Um rapaz precisa de um pai

junto de si, eu não parava de pensar, fitando o ruído

que vinha das trevas.






Por Forrest Hamer
Tradução de Lp, Do trapézio, sem rede (http://arspoetica-lp.blogspot.com/)
Música de Billie Holiday
Imagem de J. Michael Skaggs

1 comentário:

  1. Que lição, ao ler relembro de muitos filmes sobre o Vietename e também me assombro do ruído deste triste tempo.

    Um beijo António, bom início de semana.

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