quarta-feira, 5 de janeiro de 2011



PELO MENOS






Quero levantar-me cedo uma manhã mais,

antes do nascer do sol. Antes mesmo dos pássaros.

Quero atirar água fria à minha cara

e estar à minha mesa de trabalho

quando o céu clarear e o fumo

começar a sair das chaminés

das outras casas.

Quero ver as ondas a quebrarem-se

nesta praia rochosa, não ouvi-las apenas

a bater, como fiz toda a noite durante o meu sono.

Quero ver de novo os navios

que passam pelo estreito vindos de todos

os países marítimos do mundo -

os cargueiros velhos e sujos movendo-se vagarosamente

e os novos e rápidos navios de carga

pintados, sob o sol, de todas as cores

que cortam a água à medida que avançam.

Quero manter-me de olhos bem abertos por eles.

E pelos pequenos barcos que manobram

na água entre os navios

e o porto, junto ao farol.

Quero vê-los a receberem um homem que sai do navio

e a pôr outro lá em cima, a bordo.

Quero passar o dia a ver isto a acontecer

e tirar as minhas próprias conclusões.

Detesto parecer ganancioso - e já tenho tanto

pelo qual devo ficar agradecido.

Mas quero levantar-me cedo mais uma manhã, pelo menos.

E ir para o meu lugar com algum café, e esperar.

Esperar, apenas, para ver o que irá acontecer.






Por Raymond Carver
Tradução de Lp, Do trapézio sem rede (http://arspoetica-lp.blogspot.com/)

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