sábado, 25 de dezembro de 2010



MORTE AO MEIO-DIA






No meu país não acontece nada

à terra vai-se pela estrada em frente

Novembro é quanta cor o céu consente

às casas com que o frio abre a praça



Dezembro vibra vidros brande as folhas

a brisa sopra e corre e varre o adro menos mal

que o mais zeloso varredor municipal

Mas que fazer de toda esta cor azul



que cobre os campos neste meu país do sul?

A gente é previdente cala-se e mais nada

A boca é pra comer e pra trazer fechada

o único caminho é direito ao sol



No meu país não acontece nada

o corpo curva ao peso de uma alma que não sente

Todos temos janela para o mar voltada

o fisco vela e a palavra era para toda a gente



E juntam-se na casa portuguesa

a saudade e o transístor sob o céu azul

A indústria prospera e fazem-se ao abrigo

da velha lei mental pastilhas de mentol



Morre-se a ocidente como o sol à tarde

Cai a sirene sob o sol a pino

Da inspecção do rosto o próprio olhar nos arde

Nesta orla costeira qual de nós foi um dia menino?



Há neste mundo seres para quem

a vida não contém contentamento

E a nação faz um apelo à mãe,

atenta a gravidade do momento



O meu país é o que o mar não quer

é o pescador cuspido à praia à luz

pois a areia cresceu e a gente em vão requer

curvada o que de fronte erguida já lhe pertencia



A minha terra é uma grande estrada

que põe a pedra entre o homem e a mulher

O homem vende a vida e verga sob a enxada

O meu país é o que o mar não quer







Por Ruy Belo

1 comentário:

  1. "...o fisco vela e a palavra era para toda a gente..."

    Que poema! Por sorte a palavra foi liberada e a poesia cantada.

    Beijos.

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