sábado, 13 de novembro de 2010



PROJECTO DE SUCESSÃO






Continuar aos saltos até ultrapassar a lua

continuar deitado até se destruir a cama

permanecer de pé até a polícia vir

permanecer sentado até que o pai morra



Arrancar os cabelos e não morrer numa rua solitária

amar continuamente a posição vertical

e continuamente fazer ângulos rectos



Gritar da janela até que a vizinha ponha as mamas de fora

por-se nu em casa até a escultora dar o sexo

fazer gestos no café para espantar a clientela

pregar sustos nas esquinas até que uma velhinha caia

contas histórias obscenas uma noite em família

narrar um crime perfeito a um adolescente loiro

beber um copo de leite e misturar-lhe nitro-glicerina

deixar fumar um cigarro só até meio

Abrirem-se covas e esquecerem-se os dias

beber-se por um copo de oiro e sonharem-se as Índias.






Por António Maria Lisboa
Arte de Cruzeiro Seixas

2 comentários:

  1. Ei!Produzir sempre ângulos retos...e estradas que não podem ser contidas; a do susto, dos seios,do sexo, da morte.este poema fala dos universais humanos e é magnífico na sua...ternura.Como se pudesse, a criança, dizer-se depois de crescida.
    beijo
    Adriana Bandeira

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  2. Sim, um poema que é um grito de viver, reviver, saltitante...muito bom!

    Beijos.

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