Ontem, descobri um dos crimes mais assombrosos. Há um método rude para que o sabiá cante mais: furam-lhe os olhos. Aí, na triste e escura solidão de sua vida, o pássaro lapida e rumina sua partitura inata, a aditiva, e passa a cantar o tempo todo, mais e mais bonito.
Abaixo, eis o depoimento de uma avezinha pungida.
Abaixo, eis o depoimento de uma avezinha pungida.
JAZZ LARANJEIRO
tudo belo aos olhos de
doce-de-flor-de-laranjeira
n` desjejum não m`alenta
n` desjejum não m`alenta
geléia de borboletas
: me álacre era o céu-sol uma
: me álacre era o céu-sol uma
distância de vôo percorrível
ora perambulo em passos-saltos
ora perambulo em passos-saltos
cúbicos: me tumula me berça
demolição de algazarra de
ciranda incinerada
me queimam me põem
me queimam me põem
estrepe arame nos olhos
ah há
ah há
quem me unte os olhos com bento cuspe?
por via escuríssima meu canto
por via escuríssima meu canto
sai labiríntico rude mas mais belo
: o céu-sol me
: o céu-sol me
foi desaceso
– não me destila o sentir noite ou dia –
canto-peço-rezo
canto-peço-rezo
para alguém me devolvê-lo
Por Wilson Nanini
Ler mais poesia sua em http://wilsonnanini.blogspot.com/
Por Wilson Nanini
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Me impressiionou tanto o canto deste poeta que fui atrás de seus versos e encontrei mais este canto que colo aqui
ResponderEliminarpoesia
para roberto lima
o dia a noite o tempo
todo tentando fazer esses
penhascos se converterem
em pomares
eu de espelho – aos alheios
olhos – precário
de cerne de borboleta imperecível
: minha égide é de pétala
quis eras seguidas
fazer entrar no berçário repleto
uma voraz alcatéia
mas me chegam em sépia as horas
e me tecem véu de aço
e me cantam cânticos silentes
de sol-me-pôr
Um beijo António, bom domingo e obrigada pela poesia lida aqui.
Muito bonito esse poema, também já conhecia. Tenho que colocar mais textos desse poeta
ResponderEliminarAntónio
António, muito bonito, me lembrou a música do Luiz Gonzaga, Assum Preto.
ResponderEliminar"Tudo em vorta é só beleza
Sol de Abril e a mata em frô
Mas Assum Preto, cego dos óio
Num vendo a luz, ai, canta de dor (bis)
Tarvez por ignorança
Ou mardade das pió
Furaro os óio do Assum Preto
Pra ele assim, ai, cantá de mió (bis)
Assum Preto veve sorto
Mas num pode avuá
Mil vez a sina de uma gaiola
Desde que o céu, ai, pudesse oiá (bis)
Assum Preto, o meu cantar
É tão triste como o teu
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus."
beijos
P.S - Posto aqui o link com a música que é muito bonita cantada pela Cristina Motta. http://youtu.be/BdtIwxlGPSs
Antonio,
ResponderEliminartks pelo aparte! Fico honrado em tomar uma xícara de café-com-(de)leite em sua casa!
Abraços!!!