domingo, 28 de novembro de 2010



Ontem, descobri um dos crimes mais assombrosos. Há um método rude para que o sabiá cante mais: furam-lhe os olhos. Aí, na triste e escura solidão de sua vida, o pássaro lapida e rumina sua partitura inata, a aditiva, e passa a cantar o tempo todo, mais e mais bonito.

Abaixo, eis o depoimento de uma avezinha pungida.





JAZZ LARANJEIRO






tudo belo aos olhos de

doce-de-flor-de-laranjeira



n` desjejum não m`alenta

geléia de borboletas



: me álacre era o céu-sol uma

distância de vôo percorrível



ora perambulo em passos-saltos

cúbicos: me tumula me berça

demolição de algazarra de

ciranda incinerada



me queimam me põem

estrepe arame nos olhos



ah há

quem me unte os olhos com bento cuspe?



por via escuríssima meu canto

sai labiríntico rude mas mais belo



: o céu-sol me

foi desaceso

– não me destila o sentir noite ou dia –



canto-peço-rezo

para alguém me devolvê-lo






Por Wilson Nanini
Ler mais poesia sua em http://wilsonnanini.blogspot.com/

4 comentários:

  1. Me impressiionou tanto o canto deste poeta que fui atrás de seus versos e encontrei mais este canto que colo aqui

    poesia
    para roberto lima

    o dia a noite o tempo
    todo tentando fazer esses
    penhascos se converterem
    em pomares

    eu de espelho – aos alheios
    olhos – precário

    de cerne de borboleta imperecível
    : minha égide é de pétala

    quis eras seguidas
    fazer entrar no berçário repleto
    uma voraz alcatéia

    mas me chegam em sépia as horas
    e me tecem véu de aço
    e me cantam cânticos silentes
    de sol-me-pôr

    Um beijo António, bom domingo e obrigada pela poesia lida aqui.

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  2. Muito bonito esse poema, também já conhecia. Tenho que colocar mais textos desse poeta

    António

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  3. António, muito bonito, me lembrou a música do Luiz Gonzaga, Assum Preto.

    "Tudo em vorta é só beleza
    Sol de Abril e a mata em frô
    Mas Assum Preto, cego dos óio
    Num vendo a luz, ai, canta de dor (bis)
    Tarvez por ignorança
    Ou mardade das pió
    Furaro os óio do Assum Preto
    Pra ele assim, ai, cantá de mió (bis)
    Assum Preto veve sorto
    Mas num pode avuá
    Mil vez a sina de uma gaiola
    Desde que o céu, ai, pudesse oiá (bis)
    Assum Preto, o meu cantar
    É tão triste como o teu
    Também roubaro o meu amor
    Que era a luz, ai, dos óios meus
    Também roubaro o meu amor
    Que era a luz, ai, dos óios meus."

    beijos

    P.S - Posto aqui o link com a música que é muito bonita cantada pela Cristina Motta. http://youtu.be/BdtIwxlGPSs

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  4. Antonio,

    tks pelo aparte! Fico honrado em tomar uma xícara de café-com-(de)leite em sua casa!

    Abraços!!!

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