sábado, 25 de setembro de 2010







Não partas já. Fica até onde a noite se dobra

para o lado da cama e o silêncio recorta

as margens do tempo. É aí que os livros

começam devagar e as cores nos cegam

e as mãos fazem de norte na viagem. Parte apenas



quando a manhã se ferir nos espelhos do quarto

em estilhaços de luz; e um feixe de poeiras

rasgar as janelas como uma ave desabrida.

Alguém murmurará então o teu nome, vagamente,

como a gastar os dedos na derradeira página.



E então, sim, parte, para que outra história se

invente mais tarde, quando os pássaros gritarem

à primeira lua e os gatos se deitarem sobre

o muro, de olhos acesos, fingindo que perguntam.





Por Maria do Rosário Pedreira
Arte de Samuel van Hoogstraten

2 comentários:

  1. Ficar aonde a noite se dobra, é um belo momento de seguir a viagem a poética de Maria do Rosário Pedreira... e a imagem, não poderia ser melhor para ilustrar o momento de quem lê.

    Um beijo, António.

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  2. Partir somente para que se invente outra história de si.
    beijo
    Adriana Bandeira

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