terça-feira, 7 de setembro de 2010


1988, CHET BAKER





Prometeu que tocaria My

Funny Valentine como nunca

o fizera. E foi, também na voz,

verdade (a verdade é sempre

uma coisa muito triste;

faltavam-lhe duas semanas para morrer).



Comprei o disco quase vinte anos

depois, e só por difícil acaso

o fiz naquela cidade, com a

mesma ou nenhuma vontade de morrer,

agora que volta a dizer "stay

little valentine" e a chuva torna

as bicicletas uma metáfora evitável,

contrária à ferrugem do que sinto.



Sim, é isso: ninguém nos espera

- e nem todos sabemos voar, sofrer,

cantar assim o desconforto.

Nada deveria ser tão triste,

até porque nada deveria ser.



Mas não me roubem, por favor, esta canção.





Por Manuel de Freitas
Interpretação musical de Chet Baker

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