LITERATURA
E REVOLUÇÃO
Quando
o chefe da polícia Ángel Martínez enfia o cano
do
seu revólver no ânus do prisioneiro nu
e
a imagem se torna nojenta, patética e cheia de sangue,
que
importância tem para o jovem torturado
se
o poeta é um fingidor, como disse Pessoa?
Alguma
vez G. K. Chesterton visitou La Salve?
Há
alguém nas celas de Intxaurrondo que conheça
Hermann
Broch?
Quando
está, totalmente destruído, diante do juíz,
como
poderá o jovem torturado explicar
o
significado de correlativo objectivo?
Como
poderia Molly Bloom compreender um nascer do sol
tricotado
com agulhas na prisão de Carabanchel?
Quem
é Michel Foucault para o homem que passa dez meses
a
definhar numa cela?
Uma
visita de cinco minutos? Uma descoberta lírica?
Será
que os presos estudam a Bíblia Basca de Jean Duvoisin
para
terem a certeza de que as vírgulas e os agás das suas
cartas
proibidas estão correctos?
Haverá,
para a literatura, um valor ético inerente
na
rebelião, na revolução e na coragem? Ninguém o diz.
Alguma
coisa se escreveu em revistas literárias como
a
Voprosi Literaturi ou a Tel Quel sobre
as
longas greves de fome dos presos bascos?
Como
pode preocupar-se com o compromisso o rapaz
que
foge, esquivando-se às balas da polícia, o seu coração
desnudo
uma bandeira revolucionária?
Por
Joseba Sarrionandia
Tradução
de Luís Filipe Parrado
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