TRAÇADOS
URBANÍSTICOS
Tal
como qualquer cidade
também
nós escondemos
turvos
itinerários, edifícios arruinados,
escuras
vielas de rancor ou desejo,
arrabaldes
de medo ou parques para o amor,
cantos
em penumbra onde ocultar segredos,
praças
que nunca visitamos
e
aborrecidos museus onde expor lembranças
que
não interessam a ninguém.
A
nós também nos habitam cidadãos terríveis:
funcionários
do tédio,
mensageiros
de moto levando para muito longe
o
pequeno embrulho – primoroso e com laço –
dos
remorsos.
Viajantes
que passam por nós
com
as suas malas a caminho de outros corpos
e
sobretudo
transeuntes
alheios à nossa própria vontade,
incivis
e teimosos;
têm
nomes ridículos
tal
como os sentimentos amor, rancor ou medo
e
especulam – como vulgares comerciantes –
com
o preço
por
metro quadrado do nosso coração.
Por
Silvia Ugidos
Tradução
de Joaquim Manuel Magalhães
Fotografia de William Gedney
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