SELFIE
diariamente
pessoas sentam-se em uma bacia sanitária
(outras não têm mais do que o chão)
onde despejam dejetos de um corpo precário
resíduos do que foi no dia anterior a sálvia, a carne, a pimenta
pessoas sentam-se em uma bacia sanitária
(outras não têm mais do que o chão)
onde despejam dejetos de um corpo precário
resíduos do que foi no dia anterior a sálvia, a carne, a pimenta
o que antes era aroma sobre uma mesa
agora desprende odores da acidez azeda e fétida
que serão levados pela água de colônia e hidratante
(enquanto outros não reconhecem sabão)
falta água
falta privada
mas sobram, em aparelhos móveis,
máquinas fotográficas
que registram os lábios vermelhos da garota
e os dentes brancos do presidente
testemunhando um ditado antigo:
a ausência nos olhos dos outros não arde
o que falta não fede, nem cheira
no rosto que se repete, repete, repete, repete,
como cada gota desperdiçada de uma torneira
Por
Anna Ehre
Mais poesia sua em http://cantarocantar.tumblr.com/
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