domingo, 9 de setembro de 2012








FIZESTE BEM EM PARTIR, ARTHUR RIMBAUD





Fizeste bem em partir, Arthur Rimbaud!
Teus dezoito anos refractários à amizade,
à malevolência, à tontice dos poetas de Paris,
tal como ao zumbido de abelha estéril da tua família
ardenense meio louca, fizeste bem espalhá-los aos ventos
do largo, metê-los sob o fio da sua precoce guilhotina.
Tiveste razão em trocar a avenida dos preguiçosos,
os estaminés dos mija-tostões, pelo inferno das bestas,
o comércio dos manhosos, o bom-dia dos simples.
O absurdo élan do corpo e alma,
a bala de canhão que atinge o alvo e o rebenta,
é isso, nem mais, a vida dum homem!
Não se pode, ao sair da infância,
estrangular o próximo eternamente.
Os vulcões deslocam-se pouco,
mas a lava percorre o grande vazio do mundo,
outorgando-lhe virtudes que cantam nas suas chagas.
Fizeste bem em partir, Arthur Rimbaud. Alguns por cá
teimamos em crer, sem provas, a felicidade possível
contigo.






Por René Char

Tradução de Albino M.

Sem comentários:

Enviar um comentário

fale à vontade