Ouvem-se azuis na
noite. E, na hora sonâmbula, ela sente dedadas frias na pele e sabe que há-de
cuspir a alma pelos olhos molhados até adormecer de cansaço. A loucura que os
deuses ofertam como abrigo entre os nadas e as solidões.
Sempre que adormecer
na brisa, haverá alguém que a carregue em braços para um lugar mais de dentro?
Pergunto-me se acaso
sentes o que há de encanto no amor sem sangue, incondicional, gratuito. O que
há de encanto em fazer de um estranho, à custa de tanto amor, a pele tua num
abraço. O que há de encanto em habitar sonhos alheios, sabendo-te olhada como
coisa preciosa.
Pergunto-me se sabes
o quanto dói esta visão vicariante da vida. A coragem de ser fraco na fraqueza
alheia, que se quer força e cavaleiro e lança, mas que tantas vezes
vacila. Pergunto-me se sabes que a dor que não sentes em ti é dor no outro, mas
é dor também.
Sabes de uma coisa?
Era ela a menina que lia romances de amor.
Por Elisabete Albuquerque
Sem comentários:
Enviar um comentário
fale à vontade